26 dezembro 2006

Golden Brown II

Golden Brown

Tu vivias dentro do fogo,
e nem o vento querias nessas horas
em que o sol te queimava a pele, e te deitavas
nua na areia com uma onda de calor sobre o teu corpo,
vibrante, que dormia sobre ti num longo
meio-dia solar.
Tu eras o fogo.

Olhar-te seria engolir o fogo de vinte fogueiras,
e vinte vezes eu desesperei e olhei o teu corpo,
vinte vezes vinte quatrocentas fogueiras
eu pisei para chegar até à pele das tuas coxas,
até chegar ao teu cabelo, rio de lava, até
ser um corpo
que se evapora,
que se extingue por
se extinguir, sublimado, junto a ti,
nua sobre a areia num longo
meio-dia solar.

05 dezembro 2006

paisagens de Coimbra


Quando os dias têm outras horas, mais calmas

Pequena elegia de quase nada

Era um vento tão frio, vinham facas cortar-nos as mãos e os olhos
e os lábios, tu vieste com a neve, um outro vento te trouxe
chegaste com um beijo ao de leve e pintaste um quadro
com as cores dos teus olhos, de repente foste
de repente partiste,
os teus olhos ficaram comigo, os teus quadros
aí os deixaste, os teus livros e os discos
Era uma noite tão fria, tínhamos as estepes aqui tão perto,
o som dos cavalos selvagens, os guerreiros que
fizeram a mongólia, era um manto de frio sobre a terra
o chão tão parado sem pés que o pisassem,
tu vieste, nua e branca, só os teus pés agora eu ouvia,
e a tua respiração, de repente a minha se juntava,
as nossas depressa se uniram,
um mumúrio na noite gelada, nas estepes dos fantasmas
dos guerreiros de há séculos, na terra que não adormece,
nos cobertores que não nos cobrem,
no vento no frio no gelo na neve
tu foste
eu fui
fomos o fogo, a tempestade, o gemido, a sede,
a tempestade o fogo o tremor, o grito abafado de duas bocas
o calor de cinco sóis fomos
somos