20 setembro 2009

Silêncio e tanta gente

Houve palavras que ficaram
por calar
dessas sempre nos arrependemos
por certo houve

por certo houve gestos que ficaram
apenas sombra
luz refractária
ténue movimento irrepetível

por certo houve
o silêncio que ficou nos espaços
onde tu não existes
e onde não podes existir

por ser o meu espaço
por ser o meu silêncio
por certo houve silêncio
e tanta gente,
que no silêncio está
toda a música
dos gestos inúteis.

14 setembro 2009

Ganges

Esquecendo-se que lá fora um rio ardia, um novo dia nascia do calor de dois corpos adormecidos. A outra Índia onde eu queria chegar, a nação hindu que um dia descobri no teu ventre era a península onde moravam dois ombros debruçando-se das colinas sobre o rio. E não sei como escapar a esse naufrágio no antigo rio. E no fim de tudo, com um sol azul que desperta, desaparecer para sempre nessas águas que lembram dois olhos cinzentos.

Kaelstrom


A falésia crescia como um véu negro muito acima do nível do mar. E fazia lembrar, vistas da pequenez de quem as observasse, as antigas catedrais góticas, perfiladas, escurecidas pela imersão nos séculos. A ponto de, em baixo, o rebentar persistente das ondas ser só imagem, sem acústica consequência do perpétuo movimento violentando a rocha.