31 julho 2012


Procuro na noite
os braços de um descanço possível
 - ainda as luzes me cegam.

É de uma outra luz que falo,
desse lastro luminoso e pacífico
do silêncio,

a primeira luz fria da manhã
por onde a noite, amiga, se esvai.

Mas os teus olhos são guitarras à janela,
tu que te dizes negra e negros me atiras
os dedos ao pescoço.

Mas eu hei-de amar-te - eu hei-de entrar fundo
nos teus cabelos e tu hás-de de abrir
os teus braços, noite, para esse descanso
final por onde voltarei
inteiro   vivo   novo.
Devemos aos dias
a hipótese do sol,
os olhos sempre iluminados
devemos à luz
a hipótese das sombras.

Devemos aos dias
a certeza da insónia:
o terror de não saber
se é hoje ou amanhã.

Devemos aos dias
as chamas que sobem,
descalças, as colinas,
o fogo perpetuado onde
se recriam todasas coisas.

Por isso de noite
todos os homens
todas as mulheres
são deuses que constroem,
sós, o amanhã.