29 novembro 2007

Sétima Legião - O Canto e o Gelo



No seu olhar
um rosto a arder
no seu olhar
que eu não sei ver
tão cedo é tarde
o canto e o gelo
tão cedo parte
vem o degelo.

E quando o frio passou
só me ficou o canto do meu medo.
E quando o frio passou
só me ficou o encanto de um segredo.

Tão cedo é tarde
no seu olhar
tão cedo parte
fica o cantar
levou assim
o canto e o gelo
deixou em mim
a noite e o medo.

18 novembro 2007

Ninguém quer abraçar este corpo,
esgotá-lo pela ternura
violenta de uma mordedura,
tomá-lo nos braços
pelas tardes douradas de outono.
Ninguém quer esta brancura
perfeita de mármore,
porção finita do desejo.
A luz percorre
os espaços, quem me vem
atirar para uma cama desabitada
quando de noite cai o frio
das estrelas?

Eu hei-de amar
Serenamente um dia...
Um dia,
hoje não,
também as maçãs esperam
cair, maduras, no chão.
Eu hei-de sorrir serenamente,
angustiado
e triste: ninguém quer aquecer
este corpo abandonado.
Ninguém que ensinar este corpo
a viver,
ninguém quer abraçar este corpo.

12 novembro 2007

pequena luz

Dois olhos líquidos a lembrar
aquele perfume a beijos,
vagas inteiras de mar,
dois corpos que ardiam
à luz de um poema.

A chuva cai nos umbrais.
Toda a tarde chora
num ímpeto de claridade,
cai serena e triste
a chuva nos umbrais.

Caem cravos no teu peito,
desfolhados caem
pela tua pele,
são pétalas de sangue
com sabor a mel.