26 julho 2008

De Rhode Island
à Nova Escócia;
de Brian Ferry
a David Byrne
os olhos no Pequeno Estado,
um ramo escuro
na copa de uma árvore
outro ramo escuro
e o outono na copa
das árvores.
Um alpendre antigo
e um carvalho
no ponto de fuga.
Os passos esquecidos
no vermelho da folhagem morta,
dois ombros que se não esquecem.

Europa

Quando Europa fores,
mulher,
e os teus cabelos longos
se doirarem,
dois líquidos olhos gregos,
lembrando,
e fores o vento nas costas
de um toiro,
e fores as montanhas azuis nas costas
de um toiro,
a tua bandeira uma
túnica branca
apenas.
O branco da luz apenas.

14 julho 2008

Beatles - And Your Bird Can Sing



You tell me that you've got everything you want
And your bird can sing
But you don't get me, you don't get me

You say you've seen seven wonders and your bird is green
But you can't see me, you can't see me

When your prized possessions start to wear you down
Look in my direction, I'll be round, I'll be round

When your bird is broken will it bring you down
You may be awoken, I'll be round, I'll be round

You tell me that you've heard every sound there is
And your bird can swim
But you can't hear me, you can't hear me

03 julho 2008

Planta

Era um corredor de uma luz clara mas baça, indirecta, dessas em que as sombras permanecem indistintas e vacilantes, mal desenhadas nas cores com que se pintam as paredes. Do lado direito, duas janelas recebiam o sol - que àquela hora ainda insistia em atingir todos os segundos andares e últimos pisos dos prédios de uma rua que apenas no alto Verão podia conservar algum calor entre as habitações.

O corredor era estreito, um pouco esconço, cumpria todavia bem a sua função, que era a de dar comunicação, acesso ou serventia, isto é, estabelecer ligação entre as divisões mais esquecidas da casa, bem escondidas, embora acidentalmente, e um pequeno átrio onde ficavam - talvez sempre tenham ali existido - umas escadas de madeira já muito velhas, já muito gastas por quem quer que as tenha subido, talvez nem mesmo aqueles degraus saibam quem neles pôs os pés, talvez sempre tenham ali existido, pois definitivamente nos parecem ser anteriores à construção daquele edifício.

Na verdade, sempre tinha sido pouco difícil a quantos ali viveram ao longo dos anos, e não foram poucas as famílias, reparar que na sucessiva construção se tinham aproveitado as paredes graníticas e antigas, velha forma de erguer paredes onde instalar uma esteira e uma pia, depois uma cama e uma mesa de cabeceira, depois ainda talvez uma cómoda, e se tiver sido caso disso, quando a economia assim o permitia, um tapete que escuse um ou dois pares de pés do choque térmico do chão, que de noite, no inverno, bem custa tirá-los da cama se o aperto da bexiga obriga a uma ida nocturna ao quarto de banho e uma volta para o aconchego dos lençóis, e dizíamos, sempre se tinham aproveitado as austeras pedras já sobrepostas há pelo menos seis gerações, e portanto naquela luz fria, indirecta e baça onde principiava o átrio no qual tinham sido postas as escadas, em degraus, como sempre são postas, distinguia-se o negro do granito do branco com que sempre se pintam, modernamente, as paredes das casas. E não havendo outro, este concretamente seria um sinal de que no lugar destas se erguiam velhas paredes escuras de pedra escurecida, em concordância com aquelas que ao fundo do corredor dão para umas escadas de madeira, umas escadas já muito velhas, já muito gastas, um ou outro degrau mal calculado, que para o efeito servem muito bem, e já o sabemos, que é o de suportar o peso dos pés daqueles que escolhem subi-los e entrar num sótão quente, escuro, como o são todos, húmido e muito esconço, mais ainda, muito mais do que o corredor que a ele dá acesso, comunicação ou serventia.