29 maio 2009

Caminho precário

Do alto das janelas mil parapeitos olhavam, mil ombros se debruçavam à procura do lugar preciso onde tantas e tantas lágrimas haviam de cair e perder a vida, mas esta seria apenas, segundo o que se pôde apurar, a realidade paralela, uma de entre muitas, senão vejamos, dado o mesmo número de parapeitos, o mesmo número de ombros, poderia ser que tais ombros, sobre tais parapeitos se tivessem, de igual jeito, debruçado, mas desta vez simplesmente para ver quem passava por lhe conhecerem os passos que ecoavam pela rua. O que por sua vez, asseguramos, não nos parece ser difícil, as pedras usadas para o pavimento, se é que assim o podemos designar, são as pedras que noutro tempo, um tempo mais longo do que este brevíssimo tempo em que vivemos, foram as da antiga muralha do castelo, e a sua utilização para este efeito não mais teve lugar, e felizmente, pois cedo se atentou no erro, que é crasso, e chegamos à conclusão de que as pedras são únicas e portanto inigualáveis. Também o são os passos que enchem os espaços de silêncio da rua, porque tardia é a hora, irrepetíveis nos rumores que criam ao passarem debaixo dos parapeitos que olham fixamente quem por eles passa.

Portanto, se uma destas realidades, paralelas que são e que por isso de maneira alguma se hão-de encontrar, ou cruzar, em qualquer ângulo que seja, são possíveis de contar e de escrever para que se leiam e se achem absurdas hipóteses, uma terceira é também possível, e com três realidades outros milhares e milhões, não custa imaginar, são do mesmo jeito, corolário daquilo que se não aconteceu, podia ter acontecido.

Que tudo é possível, simultaneamente, no grande caos cosmológico.