21 março 2010

O meu poema em linha recta, com perdão do senhor Álvaro de Campos

com que voz, com que voz humana havemos de gritar, lá em baixo, caindo suspenso dos rochedos da côr da cinza, um rio respira, respira sempre, e eu apenas vejo os salgueiros, dois, três, e muitos outros salgueiros que ali se fixaram, nas noites de verão ouço-os a conversar, e eu desejo a pouco e pouco parecer-me com um rio, mas um que tenha dois braços como margens, e que as margens sejam os teus braços e que nas minhas margens cresçam olhos verdes salgueiros, e com a voz desses olhos verdes salgueiros respirar a doce calma do fundo do mar.

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