26 julho 2011

ceifeira de portugal

As noites pertencem-te e eu vejo
em todas elas as ruínas, os despojos
das tuas casas brancas ___ habitam-nas os corvos.

Nas tuas mãos encontrava uma aspereza
de rocha, o deserto todo em sede.
E os teus dedos, caminhos nocturnos
de uma solidão lezíria e triste,
cheios de uma paixão inexorável.
Gumes acesos ainda.

E durante muitos dias - os de vigília aturada -
senti-te subir descalça a minha rua
o rosto escondido numa sombra original
___ nenhuma luz a desenhou.

Mas ouço ainda suspensa nos dias
contraponto e fuga toda música das colinas

e agora pertences à clausura das muralhas,
a uma velha barbacã
agora pertences aos dias exactos
e pendulares do cerco.
Nascem então horas intermináveis e incompreensíveis
depois do fogo: nessa geografia luminosa
onde Roma é eterna
e todas as cidades são Lisboa.

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