01 agosto 2012

Versões do mesmo mito

I
Talvez um dia eu saiba dizer-to,
talvez apenas, não hoje, que é sábado
e de certeza nem sequer
amanhã. Amanhã não servirão as palavras.
Talvez um dia eu te diga, Diana,
que o teu sorriso não é um ritual,
que o teu nome é um templo
e o teu corpo, esse
que humanamente habitas…
Talvez um dia te exiles
dele e me encontres à espera
nas janelas da tua rua.

II
Eu sei desse lugar,
sei onde está gravada a tua dor.
É nos teus cinzentos olhos atlânticos que arde.
Tantas vezes vi transbordar
essa janela que tu habitavas
no rés-do-chão e por onde passavam
todas as naus. Pés na rua.
Olho e passo paro ouço é o sol que me agride
e eleva as bancadas – se ao menos Hemingway
tivesse visto os forcados…
e há muralhas suspensas
que se atiram monte abaixo à procura de uma outra luz
-com pedras suficientes
faremos uma casa, as minhas, as tuas mãos,
Diana, onde o teu nome se faça ouvir
quando nela entrarmos,
o templo da minha devoção inútil e,
sobre todas as coisas, ridícula.

III
Não procures inaugurar novembro, Diana,
com os frios polares.
Há olhos que são de extremo a extremo azuis,
templos que o silêncio atlântico sepulta.
Dão-se aos heróis louros
que encerram as testas, às ninfas flores com
que enfeitam os cabelos
e a ti, Diana, dão-se os versos que nos construam
um diálogo, a narrativa circular do desejo.
É que todas as palavras são crepúsculos inocentes
e a violência é a natureza dos afectos.

1 comentário:

Rosa Brava disse...

Adorei este local poético e, acima, de tudo a poesia.
Pena não continuar...