22 setembro 2007

eu não posso

eu não posso querer
as ruas e as esquinas
povoadas de ti,

o chão pisado pelos teus pés
e a poeira que debaixo deles
se levanta nos espaços onde tu não és
um corpo, matéria habitada, um mar
tão calmo de se dormir nele.

no fundo da boca um grito espera,
espera que um lago um rio uma maré
sejam um lago um rio uma maré.
brancos e pálidos na longa noite escura.

eu não posso querer
o céu povoado de aves tão negras,
a claridade tem ali também o seu espaço,
não posso querer o fogo e o gelo,
o canto e o gelo de um de um inverno
azul.

de noite o quarto escurece, apenas eu sei
que cores habitam o espaço da escuridão,
tudo se completa na ausência
de luz.

eu não posso querer a luz neste quarto
que só me conhece a mim. e só eu sei
o escuro que é ser eu.