20 dezembro 2009

She's Young

she's young, she said,
but look at me,
I have pretty ankles,
and look at my wrists, I have pretty
wrists
o my god,
I thought it was all working,
and now it's her again,
every time she phones you go crazy,
you told me it was over
you told me it was finished,
listen, I've lived long enough to become a
good woman,
why do you need a bad woman?
you need to be tortured, don't you?
you think life is rotten if somebody treats you
rotten it all fits,
doesn't it?
tell me, is that it? do you want to be treated like a
piece of shit?
and my son, my son was going to meet you.
I told my son
and I dropped all my lovers.
I stood up in a cafe and screamed
I'M IN LOVE,
and now you've made a fool of me. . .
I'm sorry, I said, I'm really sorry.
hold me, she said, will you please hold me?
I've never been in one of these things before, I said,
these triangles. . .
she got up and lit a cigarette, she was trembling all
over.she paced up and down,wild and crazy. she had
a small body.her arms were thin,very thin and when
she screamed and started beating me I held her
wrists and then I got it through the eyes:hatred,
centuries deep and true. I was wrong and graceless and
sick. all the things I had learned had been wasted.
there was no creature living as foul as I
and all my poems were
false.

Charles Bukowski

03 dezembro 2009

Há um país em que existem montanhas, nas montanhas erguem-se cem vezes cem escarpas e nas escarpas mil vezes mil cedros as povoam, desde os planaltos mais remotos até onde as brisas frescas daquele verde mar, em baixo, encontram as colinas e as praias desertas. Quando fores nesse batel, nau, caravela, couraçado, iate, cruzeiro, leva um cedro contigo, leva uma dessas árvores contigo, com ela estarás sempre à porta de casa, encostando um ombro entre a sombra e a claridade, olhando as escadas que te levam onde já sabes que te levam, mas sempre essa subida a guardar mistérios, a reter segredos, Que segredos, perguntas tu, e a resposta não tarda, pelo menos não deve tardar, porque não é segredo, não é segredo absolutamente nenhum que depois daquela porta todo o mundo é silêncio, melhor pensando, silêncio não será propriamente, um dia descias a rua, levando-te os teus passos, pesados porque descias, pesados do peso de existir, Que palavra, existir, Sim, que palavra, descias então a rua e depois aproximaste-te da porta, a mão escorregou pelo bolso, pertíssimo do preciso local por onde até há pouco meus lábios se perderam, os dedos pegaram na chave que é a que te dei para que pudesses abrir a porta, o pé esquerdo pisou finalmente o primeiro degrau, não sei de onde me veio esta crença de que foi o pé esquerdo o primeiro, são coisas que se sabem, depois o direito, decidido, por fim os teus ombros transpuseram a fronteira entre um mundo e o outro, e depois silêncio, afinal a resposta sempre tardou, tardou umas poucas linhas, quem as ler julgará que esqueço a resposta, mas prometo-te, não te faltará uma resposta, Que segredos, creio ter sido a tua pergunta, e onde os teus ombros estão é só segredo, perdão, é só siléncio, mas pensando melhor não é bem silêncio, é outra coisa, sim, outra coisa, com esta ausência de rigor que tão mal fica na pretensão literária, Uma coisa será, mas o quê, Não faças mais perguntas do que as que posso responder, por onde me levam as palavras não sei, neste momento a minha certeza é apenas uma e simples, a de que não é silêncio o que existe depois daquela porta e antes das escadas que tantas vezes subiste, é muito mais do que silêncio, é o outro modo de ser de todas as coisas, Do Universo, Sim, do Universo, se quiseres, a quarta, a quinta, a sexta até à décima primeira dimensão, desde as pedras antiquíssimas que são as ombreiras da porta, as lajes azuis onde ainda se conserva um frio glacial que já não existe, e o silêncio, que assim devemos chamar o outro modo de ser de todas as coisas, a lembrar o fogo primordial, essa combustão criadora acesa pelo lume de dois corpos que se consomem numa explosão de beijos, facas e gumes, a lembrar a fresca brisa pacificadora que nos trás as palavras que dizemos, a lembrar o chão que os passos que damos, sucessivamente, rua acima, rua abaixo para nos cruzarmos com as sombras e vultos de nós próprios escalando as árvores do desejo, e a lembrar, por fim, não te esqueças, a água, o mar para onde todos voltamos, o mar onde o ciclo se esgota e renova pelos milénios que foram e hão-de vir, e o silêncio, ou o outro modo de ser de todas as coisas.

02 dezembro 2009

Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano

no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno


e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço


e no pais no pais que engraçado no pais
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora ai está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)


diz que grandeza de alma. Honestos porque
Calafetagem por motivo de obras.
relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no pais onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato

Mário Cesariny in Manual de Prestidigitação