31 dezembro 2007

I've lost eu perdi j'ai perdu

I´ve lost eu perdi j'ai perdu
le froid o frio the cold
de duas mãos of two hands de deux mains
a exactidão dos teus joelhos
your arms tes bras os teus braços
enlaçando-me o pescoço
e a tua boca os teus lábios
tão perto so close tellement proches.

I've lost eu perdi j'ai perdu
todas as letras do teu nome
your name ton nombre, Diana,
eu sei que as devo ter guardado num bolso
ou dentro das palavras the words les mots
que tu nunca never jamais me disseste,
Diana, Diana, Diana.

I've lost eu perdi j'ai perdu
um rio a river un rivière
uma margem esquerda povoada
de salgueiros des saules of willows
toda a tarde eu esperei que a tarde viesse
e afinal ela veio elle a venu she came
sem que eu soubesse que a cor
dos seus olhos ses yeux her eyes era verde.

A Mário Cesariny

28 dezembro 2007

a pillow of winds

Hora morta, hora de Sol,
hora fugidia, as tuas horas
crepitam na multidão de fogo de uma lareira.
É pelo fogo que ardes,
é pelo fogo que a tua beleza
impura
sublima
acima de um mar sem horizonte,
ou um horizonte verde.
Numa hora cabe o teu corpo,
numa hora cabe o meu,
e cabe um girassol,

a pillow of winds -
sleepy time when I lie
with my love by my side
and she's breathing low
and the candle dies

numa hora cabe o brilho líquido
dos teus olhos febris,
numa hora longa de insónia escura
acontecem
estrelas
nebulosas
super-novas no meu tecto,
disse já que na escuridão tudo se completa,
tudo se ausenta
e tudo se concentra
numa hora breve de prazer, de prazer tectónico,
acontecem
águas fundas
atlânticas
corrente do Golfo nas palavras
(disse palavras?)
nas palmas das minhas mãos.
Eu me penitencio,
meu lago rosado, minha oculta maré,
minha árvore dormente dominando a colina,
neve caída manchada de lama,
eu dei-te a vida num beijo,
eu tirei-te a vida num beijo,
mas eu não desejo, eu não desejei nunca
o poder absoluto, esse,
o de ter nos lábios a tua própria existência,
meu cravo de fogo-fátuo,
leão de prata de Versalhes com a juba dourada,
minha febre-diamante,
corpo de mármore perpétuo osculado de mim,
eu me penitencio.
Eu não queria matar,
queria apenas viver...

24 dezembro 2007

24/25


Feliz Natal. A todos os que passam por cá.

segredo

Eu não queria dizer-te,
Os corpos juntam-se no ar frio da noite,
Mas o meu corpo não é só teu
Debaixo da frescura dos lençóis.

O poema que eu nunca fui,
que eu nunca tive aberto em mim
como um livro, uma flor
de madrugada, um cravo que
tingisse de vermelho o céu,
foste tu,
és a outra cor do escuro,
estes ombros são teus,
a respiração é nossa,
só nossa, de noite,
pela noite, com a noite.

Peço-te, fica mais um pouco, não me deixes,
demora-te, deixa ao menos um cabelo
no meu peito, é uma pena teres de partir,
o frio não espera, tens nas mãos as armas
do desejo, o teu corpo nu, o cabelo pelas costas
sacode chicote o ar à tua volta
preso o fogo o grito saudade
tu não me ouves, o meu cachecol comprido
as minhas luvas
o meu sémen dentro de ti,
peço-te, fica mais um pouco, não me deixes,
deixa cair o meu cachecol, deixa-o deslizar
pelo teu pescoço, sinuoso perfil
cinzel mármore escultor,
eu quero beber essa água beijos saliva perfume
pelo cálice do teu sexo aveludado,
não há estepe azul ou dourada
não há claridade do vento do deserto
toda a serenidade está no teu colo,
na altitude de duas suaves colinas,
peço-te, leva-me contigo
a ver o teu corpo nu deitado
nos meus lençóis, a cama está fria,
leva-me a ver o teu corpo de guitarra, peço-te,
deixa que o destrua e queime
apenas uma vez
dormirei depois coberto pelas tuas cinzas,
deixa ao menos um cabelo no meu peito.
Peço-te.

22 dezembro 2007

please, please, please


The Smiths - Please, please, please, let me get what I want


Good times for a change
See, the luck I've had
Can make a good man
Turn bad

So please please please
Let me, let me, let me
Let me get what I want
This time

Haven't had a dream in a long time
See, the life I've had
Can make a good man bad

So for once in my life
Let me get what I want
Lord knows, it would be the first time
Lord knows, it would be the first time

19 dezembro 2007

You dress to kill - guess who´s dying

Roxy Music - Dance Away



Há poucas bandas com um vocalista que é simultaneamente um verdadeiro hino à classe e ao estilo... É caso para dizer "quando eu for grande quero ser Brian Ferry".




(parêntesis)

Salazarento/a

Obrigado Rui Zink pela melhor expressão que já ouvi, arrisco dizer, em toda a minha equívoca vida.

da insónia

se o corpo permanecesse intacto
se a noite viesse completa, apenas
nua e branca como
água que nascesse luar
das estrelas
eu dormiria.

dormiria se o corpo
pedisse um pouco mais de cansaço,
a luz não esmorece
as ondas quebram ao longe
na escuridão profunda
de um quarto frio
a insónia queima os olhos,
eu dormiria se viesses
na aspereza das crinas
douradas de areia
eu espero
pela contemplação da glória ardente
de um pôr do sol,
se nos campos
outonais chovessem gritos
de planície dormente
eu dormiria.
dormiria se viesses

17 dezembro 2007

do poema de amor

um poema de amor não tem
forma, não tem chão,
não tem desenho ou estudo;
um poema de amor
tem apenas assomos de paixão,
lamentos,
um poema de amor é um
murmúrio, a construção em verso
da dor penetrante e certa;
um poema de amor
é uma planície deserta de cores
outonais sob a luz das estrelas,
o luar nos corpos dos que se deitam
e escrevem com a saliva dos beijos
poemas de amor na pele rasgada.
um poema de amor existe na
concreta dimensão dos corações,
o sangue não pára de correr,
também o frio nasce da luz
das estrelas, também o poema,
o poema de amor.

14 dezembro 2007

Arte

Nas fronteiras os homens esperam ao frio,
Os ombros gelam como pedras,
O granito enterra
Os braços fundo no ventre da serra,
O aroma da turfa preenche o ar,
A respiração condensa debaixo do nariz,
E os guerreiros ferem com as lanças
E as espadas o céu, o sangue não escorre
Ainda pelo granito, pouco faltará,
Ninguém se atreve a dar o primeiro grito,
Quanto mais o primeiro passo,
As pinturas de guerra são a transfiguração
Da dor e do medo, um cavalo basta
Que venha a correr, pesado e escuro
E ferido na barriga pelas esporas
De um guerreiro para responder ao desafio
Que veio do lado oposto da colina,
O vale ecoa em gritos e urros e cortes
De espada e faca,
Nas fronteiras os homens morrem ao frio
E os ombros tombam nas pedras,
Os corpos desfeitos vão a enterrar
No granito da serra.

11 dezembro 2007

avenida das tílias

Eu quero janelas verdes, uma avenida de tílias cheia de sombras primaveris, o perfume dos dias de sol, dois olhos líquidos e fundos... eu quero passar de madrugada e ver os esquilos correr do parque para o jardim, aventurando-se pela estrada. Eu quero ser um esquilo. Eu queria querer-te, mas não quero. Eu quero janelas verdes, uma avenida de tílias e um banco de pedra, musgo e níqueles, ou um muro, uma raiz antiga de árvore onde me sentar, sim, eu quero uma avenida de tílias, duzentos anos de árvores, dois séculos de verde silêncio, mas o silêncio não é perfeito, o silêncio não existe, os murmúrios existem, pois eu quero o rumor das tílias, os seus braços que me levem para a copa das árvores, eu vou com os esquilos de madrugada...
Eu quero janelas verdes, uma avenida de tílias, os meus passos debaixo das tuas janelas, serão verdes? serão tílias?

06 dezembro 2007

Look at all the lonely people

Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby picks up the rice in the church
where a wedding has been
Lives in a dream
Waits at the window, wearing the face
that she keeps in a jar by the door
Who is it for?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Father McKenzie writing the words
of a sermon that no one will hear
No one comes near.
Look at him working. Darning his socks in the night
when there's nobody there
What does he care?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby died in the church
and was buried along with her name
Nobody came
Father McKenzie wiping the dirt from his hands
as he walks from the grave
No one was saved

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

The Beatles - Eleanor Rigby (Revolver, 1967)

Eu fiz do vento as minhas asas,
o meu país não é tão grande
que nos tenha assim, nus,
margens juntas de um rio,
o sexo contra o sexo, lutando na
glória ardente de um pôr-do-sol.

Eu fiz da tua carne o meu sangue.
Da tua pele, dos teus ombros,
eu fiz o domínio absoluto
das minhas mãos... tu és o meu
regresso à luz dos dias, à pureza
das águas... Oh loucura tão breve.

03 dezembro 2007

Talvez o fogo

Talvez seja a luz, será a luz da noite
que vem caminhando no frio,
uma luz azul que aquece?
Talvez seja o fogo, sim, é o fogo
que diz a verdade...
a pureza da neve está no gelo
e no fogo, no azul do céu
e na alta brancura dos dias
claros.
O fogo trespassa a pele, este fogo
dourado ilumina os corpos
que no escuro se juntam,
o peito nas costas,
o queixo e as mãos nos ombros,
só saliva e sensualidade,
e o fogo na pele dos amantes.

Pela memória dos dias escuros
eu vou beber-te o sangue dos teus braços,
não, vou antes ser o teu sangue, a tua língua
que escorrega pelo fogo, vou antes ser
a respiração dos teus olhos,
a tua boca inteiramente afogada em mim.

Vai, perde-te nas ondas,
eu fico nas sombras,
nas esquinas do vento,
sim, eu fico pelo vento
só mais um pouco,
e talvez, se quiseres, morrer.

02 dezembro 2007

Vê até onde teus olhos, teu cabelo,
teus dedos, tacteando, te deixem ver.

Vê até onde um quarto cheio de luz
negra, perfeita escuridão, te deixe ver.

Vê tudo, vê absolutamente, até onde
o teu corpo, dourado e quente, te deixe:

Desfazendo com teu peito a espuma
das ondas, ou numa margem oculta,

quebrando

o silêncio de um renque de
salgueiros.