30 junho 2011

Berlengas





Arquipélago das Berlengas classificado pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera.
Aqui.

22 junho 2011

The Boss...

I remember... growing up... at night, my dad would sit in the kitchen with all the lights out and wait for me to come in and sit there and drink... and I'd stand in the driveway and I'd look into the screendoor and I could see the light of the cigarrette... and I'd rush up on the porch... and try to get by him... but he'd always call me back... and it was like he was always angry, always mad. And he'd sit there and think about every thing he was never gonna have... until he get me thinking like that too. And I'd lay up in my bed ... and feel like if something didn't happen... if something didn't happen soon... and feel like I was just gonna... like someday like I was just gonna...

I'm on Fire

welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte
violar-nos
tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas
portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

21 junho 2011

trova (andante)

Que bom aprendeste a canção
falta agora saberes pintar os dedos
com ela pintar com os dedos
os ombros
a tua breve canção.

Que bom aprendeste no piano
a martelar os dias com o ritmo
solar,
a beber dos ombros dourados
a tua breve canção.

Que bom é saberes finalmente
a que dia pertencem as flores
que roubam às palavras
que roubam os dedos
que pintam os ombros ao piano
onde aprendeste a tua
breve canção

20 junho 2011

Eu quero saber se é real
o corpo que habito, mutilado.
há debaixo daquela ponte um rio inteiro
a correr eu ouço-o e sinto-o cá muito em cima,
somos um,
e eu quero saber se ele existe.

E os gatos,
ainda se deitam nos telhados?

Furiosamente quero arrancar-te
as mãos dos pulsos
para que desçam elas próprias
aos meus bolsos
e vejam, sintam,
elas que levem o último cravo do meu peito.

Quero saber se é real
este falso exílio da dor,
uma dor sem rios, sem a sombra dos penedos.
Nela, só cravos caídos no chão,
esperanças adiadas.
Quero saber se existem.

18 junho 2011

e. e. cummings

i like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh… And eyes big love-crumbs,

and possibly i like the thrill

of under me you so quite new

05 junho 2011

Chovia devagar nas pedras escuras da calçada, que subia, pesava-me nos ombros toda uma noite de horas longas e incompreensíveis, a rua como que escalava um pedaço de serra enfileirada, os olhos não poderiam fugir, mesmo que tivesse sido essa a sua régia vontade, para outra cor que não fosse a do xisto que amuralhava toda a aldeia, e a rua continuava a sua escalada de monge, preferindo a solidão e o silêncio, mesmo entre as gotas da chuva se instala um silêncio insondável e perpétuo. a esta hora todos dormem, a chuva continua a lamentar-se enquanto desce a rua, é um lamento de folha caída na frenética tarde de outono, e há penedos de ambos os lados da rua que parecem casas, e têm portas por onde só passam gentes de outras eras, e uma janela que só a atravessa a primeira luz branca da manhã, aqui as casas são braços escuros que nascem de dois ombros idênticos, e correm estreitas subindo a serra parecendo fundir-se nos penedos que com sobranceria ameaçam desistir da suspensão secular a que geologicamente estão votados, o século dos séculos virá em que a ameaça se torne em acção. Os braços da rua flanqueados por penedos correm estreitos em direcção à serra, são braços que se prometem mutuamente longos abraços, e fraternos, mas dificilmente unirão sequer as mãos, impensável seria pedir a um rio que unisse as suas margens, aproximando as mãos ou os braços, juntando ombro a ombro as duas bandas, a de cá e a de lá, teriamos um rotundo não como resposta, o rio quer viver, correr, marchar, caminhar até ao verde oceano. O mais que se pode pedir a esta rua é que deixe tocarem-se as mãos de quem nela vive, nesses penedos que se assemelham a casas com portas onde só passam gentes de outras eras, essas para quem o frio é o modo natural de sucederem todas as coisas, as boas e as más. não adivinhamos sequer se pelas janelas mais altas se não tocam as mãos dos vizinhos, e se não trocam as mais belas palavras e as que sendo feias todavia não deixam de poder ser ditas, quando justas, não seria estranho o facto, proibido reagir com espanto, afinal de janela para janela sente-se a respiração pesada e profunda que só o sono descansado proporciona, este vizinho sabe despreocupadamente que tudo está bem em casa do freguês, o outro sabe que na deste ainda se juntam marido e mulher enquanto a luz do fogo permite, depois do fogo suspendem-se as horas, permanecem apenas as esperanças, os esboços de um recomeço, sublinhe-se que aqui não há certeza se na escuridão ainda existam os objectos, é pergunta que deve ser feita, questão sobretudo pertinente, se na escuridão existe esta cama, a porta que acabámos de atravessar e trancar, a cómoda onde pacientes e escassas aguardam as roupas o dia em que serão usadas, e se existem os corpos que em segredo desejamos, os beijos, as facas de amar violentamente no auge do prazer, melhor por isso amar à luz de um fogo vacilante e ancestral com que amaram também os primeiros e originais vizinhos.