11 abril 2024

Sabe o destino que o esperas:

- que o persegues

- que o alimentas

 Sabe o destino que procuras os longos sulcos do desejo

a queda livre do anoitecer, as águas nocturnas inquietas

- um doce anoitecer à luz de um poema.

E nessa espera sobem os olhos ao limite da planície, 

ao fino horizonte indecifrável.

Ao longe, duas aves mergulham

no profundo coração das searas.

Nesse manto luminoso de silêncio

onde te espera o lugar a que pertences.

01 agosto 2012

Versões do mesmo mito

I
Talvez um dia eu saiba dizer-to,
talvez apenas, não hoje, que é sábado
e de certeza nem sequer
amanhã. Amanhã não servirão as palavras.
Talvez um dia eu te diga, Diana,
que o teu sorriso não é um ritual,
que o teu nome é um templo
e o teu corpo, esse
que humanamente habitas…
Talvez um dia te exiles
dele e me encontres à espera
nas janelas da tua rua.

II
Eu sei desse lugar,
sei onde está gravada a tua dor.
É nos teus cinzentos olhos atlânticos que arde.
Tantas vezes vi transbordar
essa janela que tu habitavas
no rés-do-chão e por onde passavam
todas as naus. Pés na rua.
Olho e passo paro ouço é o sol que me agride
e eleva as bancadas – se ao menos Hemingway
tivesse visto os forcados…
e há muralhas suspensas
que se atiram monte abaixo à procura de uma outra luz
-com pedras suficientes
faremos uma casa, as minhas, as tuas mãos,
Diana, onde o teu nome se faça ouvir
quando nela entrarmos,
o templo da minha devoção inútil e,
sobre todas as coisas, ridícula.

III
Não procures inaugurar novembro, Diana,
com os frios polares.
Há olhos que são de extremo a extremo azuis,
templos que o silêncio atlântico sepulta.
Dão-se aos heróis louros
que encerram as testas, às ninfas flores com
que enfeitam os cabelos
e a ti, Diana, dão-se os versos que nos construam
um diálogo, a narrativa circular do desejo.
É que todas as palavras são crepúsculos inocentes
e a violência é a natureza dos afectos.

31 julho 2012


Procuro na noite
os braços de um descanço possível
 - ainda as luzes me cegam.

É de uma outra luz que falo,
desse lastro luminoso e pacífico
do silêncio,

a primeira luz fria da manhã
por onde a noite, amiga, se esvai.

Mas os teus olhos são guitarras à janela,
tu que te dizes negra e negros me atiras
os dedos ao pescoço.

Mas eu hei-de amar-te - eu hei-de entrar fundo
nos teus cabelos e tu hás-de de abrir
os teus braços, noite, para esse descanso
final por onde voltarei
inteiro   vivo   novo.
Devemos aos dias
a hipótese do sol,
os olhos sempre iluminados
devemos à luz
a hipótese das sombras.

Devemos aos dias
a certeza da insónia:
o terror de não saber
se é hoje ou amanhã.

Devemos aos dias
as chamas que sobem,
descalças, as colinas,
o fogo perpetuado onde
se recriam todasas coisas.

Por isso de noite
todos os homens
todas as mulheres
são deuses que constroem,
sós, o amanhã.

24 junho 2012

I
A Espanha fascina-me, como já se deve ter percebido pela quantidade de tempo que tenho perdido a pensar nela, quando devia estar a pensar nos exames que me esperam a partir de dia 30. Espanha não, como se diria no Asterix... Castela. Sim, porque isto de chamar Espanha àquele país é uma daquelas anomalias e bengalas do discurso que todos usam sem pensar no que realmente quer dizer. Ah, lá estás tu a ser um... tinhoso, dizem. Pois, mas a Espanha é isso mesmo, uma anomalia, e das grandes. Do ponto de vista Histórico, sim, é um pouco, mas do ponto de vista político, ui, então é toda ela uma grande anomalia. 

Vejamos, do ponto de vista Histórico, a Hispania era uma província do Império Romano, administrativamente dividida em Lusitania, Baetica e Tarraconense. A Lusitania foi a última região a ser conquistada pelos romanos, com a famosa sétima legião. Pronto. Já chega disto.

Do ponto de vista político tudo se torna mais interessante. Durante a reconquista, a Galiza, que por momentos teve umas ténues pretensões independentistas, teve azar, porque tinha Portugal a Sul e Leão a Este. Temos pena. D. Afonso Henriques tinha mais que fazer, e a Galiza acabou por ser incorporada por Leão. Estes também não tiveram muita sorte, outra vez por causa do território. Enquanto Portugal, Leão e Castela se expandiam para Sul, Castela foi avançando também para Oeste e acabou por cortar a trajectória de Leão, que ficou com uma ridícula faixa de terreno entre Portugal e Castela. Também eles foram incorporados. Os outros reinos, estilo Navarra e Aragão, sofreram as suas vicissitudes, apesar de terem uma boa política de casamentos. Não estou a inventar, eu sei mesmo isto. Só que também foram aglutinados. Agora já dá para ter uma ideia de como as coisas se passaram. Também dá para reconhecer que, apesar dos acidentes de percurso, Portugal foi o único Estado a conseguir resistir a estes estupores imperialistas.

Acontece que já no tempo de D. Afonso Henriques dava para uma pessoa se aperceber desta vontade de conglomerar tudo. O primo dele, Afonso, foi rei da Galiza, depois rei de Leão e rei de Castela, após o que foi proclamado Imperador de toda a Espanha, como então se disse, em 1135. Outra vez: toda, não, filho... Portugal também fazia - e faz - parte da Hispania, e não entrou nessa brincadeira, porque o teu primo Afonso I não quis saber dessa treta para nada.

Uns anitos mais tarde, naquela conferência de Zamora a que D. Afonso Henriques foi chamado a ver se o convenciam a aceitar a autoridade do primo como imperador, foi o Afonso VII que, reparem, não contestou o título de rei ao Henriques. Castela marimbou-se para isto e fez uma operação muito inteligente: Portugal deixava de entrar para as contas, deixava de fazer parte da Hispania, assim não teriam problemas de consciência em chamar ao país deles Espanha, como vieram a fazer. O propósito deste tipo era legítimo, como é óbvio. Restaurar a velha província romana. Assim como o do Carlos Magno, mas numa magnitude maior: restaurar o próprio Império Romano.

Quando conquistaram Granada, em 1492, era oficial e passou nas notícias: A Espanha era a maior! Com uma pedrita no sapato, porém... Portugal, que também tinha bué barcos e comercializava especiarias e tinha muitas praças além-mar.

Para quem não mandou ainda este texto à merda e foi fazer alguma coisa de interessante, tenho mais uma coisa gira a dizer: rio-me sempre que ouço alguém dizer que Portugal enquanto país não é viável. Espanha enquanto país é que não é viável! É uma construção formal, uma falácia política. A prova de que Espanha é uma anomalia histórica e política (embora menos a primeira e mais a segunda) é... Portugal. De modo que o que é viável é Portugal, é Castela, é Galiza, Astúrias, Andaluzia, Navarra e Catalunha. 

O que irrita alguns destes povos é o facto de Espanha ser... Castela. Os catalães irritam-se do centralismo (eufemismo moderno para imperialismo) castelhano. Até nisto a Espanha é imperialista: não se diz espanhol, diz-se castelhano. Yo hablo castellano. Pois. 

A única coisa que nos distingue das nações balcânicas é a religião e o bom senso. Somos todos naçõis christãs, civilizadas, e pollidas. O outros são cristãos, cristãos ortodoxos e muçulmanos e um pouco brutos. O que nos impediu de andar a brincar aos genocídios entre pontes e montanhas.

II
A selecção espanhola é o reflexo de tudo isto. E a filosofia que adoptaram como sistema de jogo também. É uma anomalia. Uma construção formal e falaciosa análoga à construção que ergueu um país. Não tem qualquer matriz social, antropológica. É uma pura lógica formal, matemática, circular. O mecanismo pendular e cartesiano com que jogam é bacteriologicamente puro e reduz-se a aforismos. Como tudo o que é matemático, é universalmente válido. É, em poucas palavras, uma fórmula. Como qualquer hipótese científica, é inicialmente considerada inovadora e genial para depois ser banalizada. O que a selecção espanhola ainda consegue fazer é mascarar a indolência do seu jogo com a eficácia

O jogo contra a Irlanda, como já disse, não conta. Conta o jogo com a Croácia e o de ontem contra a França. O primeiro reduz-se a dois penáltis não assinalados a favor da Croácia e um golo da Espanha, com que ganhou, logo depois de um desses lances. O segundo reduz-se a 10 segundos em que Jordi Alba escapa pela esquerda, aproveitando-se de uma escorregadela do lateral francês - que não se lembrou de jogar com a mão para tirar-lhe a bola dos pés enquanto caía - cruza para Xabi Alonso e pronto. O resto é de uma chatice que já ninguém suporta! 700 passes? Penso que já é altura de se parar com os encómios e aleluias a isto.

Agora vou estudar Direitos Reais e depois ver o Inglaterra x Itália.

15 junho 2012


Eu sei que os espanhóis estão hoje felicíssimos: o nosso primo drogado, a nossa tia bêbeda, o avô inconveniente e malcriado não deixam de ter o nosso amor familiar e muita, muita condescendência.

Há muito tempo que sou objector de consciência em relação ao jogo do barcelona e do da espanha.

Não me levem a mal. Vale, a Espanha não tem Messi, mas tem Silva; é eficaz.

Mas uma equipa que faz, como fez no jogo contra a irlanda, 779 passes, só pode andar a brincar. reparem bem: fazendo uma contas simples, sabendo que a espanha marcou 4 golos, havendo por isso 4 assistências,  chega-se à conclusão que os jogadores tocaram na bola 775 vezes para a devolver ao jogador que lha entregou ou para qualquer outro, mesmo ali ao lado, à distância de 3, 4 metros. Só podem andar a brincar. Eu vi cerca de 15 minutos da primeira parte e toda a segunda parte. Nesses 60 minutos vi a Irlanda ter a bola em situação de 'ataque organizado' por 3 ocasiões, mas sem expressão. Regra geral, a Irlanda roubava a bola aos espanhóis a cerca de 20 metros da linha de fundo e estes por sua vez roubavam-na nos mesmos 20 metros. Não havia avanço. Progressão, chamam-lhe os comentadores. Isto não é jogar. Uma vez vi no youtube um video que explicava o comportamento táctico do barcelona e o que mais me impressionou foi a interessantíssima reacção à perda da bola: encurtavam a área de jogo fazendo um rectãngulo apertado para pressionar e, uma vez readquirida a posse de bola, estarem todos em condições de fazer o que sabem melhor: trocar a bola entre eles incansavelmente. foi o que fizeram hoje, como foi bom mau de ver.

Em conclusão, a Irlanda não jogou. Uma equipa cuja filosofia é jogar um meiinho de 775 passes é desinteressante. Muito desinteressante. É uma equipa chata. A certa altura dei por mim profundamente chateado com o que estava a ver. O jogo da espanha é de uma chatice tremenda. Eu juro, sempre que vejo a espanha jogar penso na Cena do Ódio do Almada Negreiros: 

Tu, qu'inventaste a chatice e o balão, 
e que farto de te chateares no chão 
te foste chatear no ar, 
e qu'inda foste inventar submarinos 
p'ra te chateares também por debaixo d'água...

Sim, é mais ou menos isto que eu sinto ao ver a Espanha a jogar. Uma equipa cuja filosofia é entreter com mantras as equipas adversárias até que, hélas, já lá está dentro... só podem andar a brincar. Que eu saiba o futebol joga-se com duas equipas. A ideia é mais ou menos esta: uma tem a bola, tenta chegar ao golo, perde a bola; a outra equipa ganha a bola, tenta chegar ao golo, perde a bola; parece infantil, mas é assim. Há confronto físico, táctico, estratégico. Há erros: colectivos, individuais. Neste jogo a Irlanda não teve confronto físico, táctico nem estratégico. O tempo que a Espanha os deixou jogar não conta. Não estiveram em campo, ao menos do ponto de vista desportivo. Não competiram. De forma que o jogo da Espanha nem sequer é anti-jogo ou, como se constata, uma negação do futebol. É mais do que isso. Pode-se-lhes atribuir o mérito epistemológico de terem descoberto uma maneira alternativa de jogar futebol. A minha ignorância é que me não permite classificá-la. Além do Direito haverá outra maneira, outro sistema de organização da sociedade? Há, com certeza, mas não se descortinou ainda qual.

Tiveram ainda o mérito - reconheço - de encontrar uma fórmula. Mas é uma fórmula, caramba! E está a ser repetida, reproduzida, sem ser reciclada, reorganizada! da filosofia de jogo da espanha bem se pode dizer que é uma filosofia, verdadeira e própria: tem um sistema. Simplesmente é um sistema de tudo aquilo em que eu não acredito. É um sistema de lógica formal, lógico-dedutiva, género permissa maior permissa menor: a = b; b =c, c = a. Assenta numa lógica tautológica, circular. Ninguém na espanha sabe o que é uma espiral hermenêutica, ui, sabem lá eles isso. Não há emoção: só reprodução. Maquinismos. Ah e tal, o tiqui-taca... mas há lá beleza num mecanismo de relógio infalível? Numa fábrica de Modelos T? Sim, Crujff tinha mesmo isto em mente quando montou o barcelona nos anos 90 e criou esta filosofia, oh se tinha. Se já tivesse partido, estaria a rebolar. A admiração de Crujff e do seu séquito por isto é a do criador que julga ainda ver no monstro actual a forma de jogar que criou. Está muito longe disso. Portanto os encómios que o barcelona e a selecção espanhola recebem são filhos de um status quo vencedor e acrítico, por estas alturas já inexplicavelmente embevecido. Ando perplexo há 3 ou 4 anos com isto. A nossa emissão segue dentro de momentos.

27 abril 2012


chegam tarde as rosas
teus dedos pétalas vespertinas
às cavernas aos punhos à hora do gelo
chegam sempre tarde às memórias de turbante
aos desertos azuis

chegam sempre tarde as palavras
as que caem verticais e frias
na tarde cinzenta de chuva
frias como a chuva
e chegam sempre tarde
as rosas as palavras
nas costas de Atlas pesando
e chegam sempre tarde
ao topo das colinas
tardando se é verão
e tu chegas sempre tarde
a essa canção à altura dos ombros
depois do medo depois dos braços
cansados de serem lírios brancos

é sempre tarde para a espera
mais longa.

15 novembro 2011

Vem começando a fazer muito sentido destapar-me um pouco, destapar os véus da dor, expor um braço, depois outro, a seguir uma perna, até me expor, inteiro, nu, a todos, a tudo, à noite principalmente, essa onde por agora vivo perpetuamente.

Vivo nela em parte com a mais lata aceitação da culpa, disso me penitencio, vivo na noite, nessa metáfora barata, corrente, mas útil, que é a noite; noutra parte, fui para ela empurrado por ter sido atacado pela doença mais vil e oportunista que conheço, e ainda hoje sinto os seus braços apertarem-me o pescoço como em tempos fizera, ainda que não o tenha feito longamente. Há pedras e bichos que me atingem numa lenta asfixia, há dedos compridos e frios que me não deixam respirar livremente.

Isso mesmo determina que hoje queira quebrar uma regra que defini há muito tempo e que exclui os desabafos, mas o que aqui vou escrevendo chega também a ser um desabafo, ainda que assuma outra forma.

O lugar onde estou agora não chega a ter sombras, pressupondo que para existirem é impreterível um ponto de luz, ainda que seja o mais frágil e vago, é uma rua sem sombras, um lugar que nenhuma luz tocou; convivo com o medo, um medo absoluto, paralisador, a lembrar altos e escuros penedos.

Há, porém, dias de muita luminosidade clara, de águas cristalinas, que passam a correr como essas águas de um rio, surgem muito rapidamente e é dessa forma que passam por mim, sendo da maior crueldade ter que assistir ao passar desses dias em que penso ter uma existência feliz sem poder colhê-los ao sol e sentar-me nesse pomar e por fim adormecer docemente.
Sei que esses dias existem e tenho deles, agora, apenas uma indistinta memória, fugaz, etérea. Mas sei que existem e quero muito voltar a esses dias onde domina uma sensação amena e de conforto que é pacificadora... essa paz desejo-a na vida, não a quero atingir pela morte.

05 novembro 2011

(saudade) é mais ou menos isto

i like my body when it is with your
body. It is so quite a new thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which I will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh . . . And eyes big love-crumbs,

and possibly i like the thrill
of under me you quite so new.

e. e. cummings

04 novembro 2011

Depois de ti

noite

que nos levas

só a paz com que vamos.

Inventámos tudo

para nos distrair enquanto não chegas:

para nos tornarmos maiores

do que o rio

que finalmente descemos contigo.

Olho-me ao espelho nos olhos

e vejo: és então tu

noite

que me habitas - és então tu

infinitamente eu

universalmente eu

nas tuas mãos tão breves

e nuas.

love is more thicker than forget



love is more thicker than forget
more thinner than recall
more seldom than a wave is wet
more frequent than to fail

it is most mad and moonly
and less it shall unbe
than all the sea which only
is deeper than the sea

love is less always than to win
less never than alive
less bigger than the least begin
less littler than forgive

it is most sane and sunly
and more it cannot die
than all the sky which only
is higher than the sky.

03 novembro 2011

Time



Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain.
You are young and life is long and there is time to kill today.
And then one day you find ten years have got behind you.
No one told you when to run, you missed the starting gun.

26 outubro 2011

Pergunto-me que sou quem és
eu tu isto porque um dia confundiste-te comigo
falavas como eu dormias,
dei por mim a escalar-te dor magra colina
e pergunto ainda quem sou quem és
houve tempo em que realmente não sabia
não mo dizias e não me disseste ainda
deves já ter reparado que to pergunto sempre
e não a mais ninguém quem sou quem és
talvez às vezes eu apenas outras vezes todos
não esses, que não existem, mas também tu
certas noites - essas onde não entramos -
já lá estão outros iguais a nós
os mesmos cabelos mas um pouco despenteados
e a noite só à espera entrelaçando os dedos
e certa vez tanto esperou que se esqueceu de sair
- esquerda alta - e como se esqueceu de sair lá ficámos
mais um pouco - procissão - ainda sem saber
quem sou eu quem és tu, se diferentes somos,
a protagonizar incêndios azuis.
Há lugares que estão nos antípodas
por exemplo novembro
por exemplo junho
-- a chuva que cai pesadamente nos cabelos
-- os pêssegos solares que anunciam o verão

Há lugares cinzentos brancos
ninguém sabe que cor têm os dias
mas todos concordam
que há músicas que são a cor azul
(punhal da tua luz)
há dias que são como certas árvores
-- tudo secam ao redor numa lenta
desidratação do pensamento.

Há nesses dias uma falta de pontes
sobre os braços compridos dos rios
por isso passamos todos impávidos
defronte da pessoa que podíamos ter sido.

26 julho 2011

ceifeira de portugal

As noites pertencem-te e eu vejo
em todas elas as ruínas, os despojos
das tuas casas brancas ___ habitam-nas os corvos.

Nas tuas mãos encontrava uma aspereza
de rocha, o deserto todo em sede.
E os teus dedos, caminhos nocturnos
de uma solidão lezíria e triste,
cheios de uma paixão inexorável.
Gumes acesos ainda.

E durante muitos dias - os de vigília aturada -
senti-te subir descalça a minha rua
o rosto escondido numa sombra original
___ nenhuma luz a desenhou.

Mas ouço ainda suspensa nos dias
contraponto e fuga toda música das colinas

e agora pertences à clausura das muralhas,
a uma velha barbacã
agora pertences aos dias exactos
e pendulares do cerco.
Nascem então horas intermináveis e incompreensíveis
depois do fogo: nessa geografia luminosa
onde Roma é eterna
e todas as cidades são Lisboa.

02 julho 2011

A crack on the head




Unruly boys
who will not grow up
must be taken in hand
Unruly girls
who will not settle down
they must be taken in hand

A crack on the head
is what you get for not asking
and a crack on the head
is what you get for asking
...